sábado, 28 de fevereiro de 2009

Coletânea Rabequeiros 1


Um dos objetivos deste blog é divulgar o som dos rabequeiros nos mais variados contextos musicais. Esta iniciativa começa a se concretizar com a disponibilização da primeira coletânea de rabequeiros, feita a partir de uma pesquisa no meu acervo de MP3.

Encontraremos aqui tanto rabequeiros da antiga, como Zé Côco do Riachão e Seo Nelson da Rabeca, quanto rabequeiros contemporâneos, os atuais perpetuadores da tradição deste instrumento no Brasil. Exemplos destes últimos são Marcos Moletta e, porque não, eu: Igor França.

Espero que, em um futuro próximo, outras coletâneas sejam postadas mostrando os toques, sotaques e pisadas de todos os cantos do país. Você é um rabequeiro e quer ter seu material divulgado aqui? Mande um email para igorfrança@gmail.com com seus arquivos anexados.

Deixemos de muita conversa e vamos ao que interessa:
A legenda indica:

Título
rabequeiro
artista
disco

Rabequeiros 1

01- Sapopemba
Rabequeiro: Thomas Rohrer
Comadre Florzinha
Comadre Florzinha

02- Exortação à luta
Rabequeiro: Siba
Vários Artistas
Canções do Divino Mestre
(obs: este disco é um projeto de Carlos Rennó que acompanha uma tradução do livro Indiano Bhaghavad Gita, por Rogério Duarte. Lançado em 1998)

03- Rato Molhado
Rabequeiro: Rodrigo Penna Firme
Banda Nó Cego
Nó Cego
(obs.: registro ao vivo do forró de São Pedro da Serra. Acompanha Marcelo Bernardes na flauta)

04- Canela de Arubu
Rabequeiro: Zé Côco do Riachão
Zé Côco do Riachão
O voo das garças

05- Feito Borboleta
Rabequeiro: Thomas Rohrer
Coral do Projeto EmCantar
Projeto EmCantar vol.1

06- Rabeca e Arco
Rabequeiro: Seo Nelson da Rabeca
Nelson da Rabeca e Benedita Ferreira
O Segredo das Árvores

07- Samba de dez linhas
Rabequeiro: Maciel Salu
Dj Dolores e Orchestra Santa Massa
Contraditório

08- Tirana (Salamanca do Jarau)
Rabequeiro: Zé Gomes
Dércio Marques
Segredos Vegetais

09- Mourão
Rabequeiro: Antônio Nóbrega
Quinteto Armorial
Onça

10- Carcará
Rabequeiro: Zé Gomes
João do Vale (c/ Chico Buarque)
João do Vale

11- Garnizé
Rabequeiro: Alexsandro Vacão
Pifarinha
De Coco a Barroco

12- Forróquistão
Rabequeiro: Igor França
Arco da Véia
Arco da Véia

13- Cabeça D'água
Rabequeiro: Marcos Moletta
Raiz do Sana
Cabeça D'água

Baixe pelo link a seguir:
Rabequeiros 1

Espero que gostem do som!
Aguardo seus comentários

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

Rabeca de Fandango - Anísio Pereira

A Rabeca de Fandango, ou Rabeca Fandangueira, é uma tradição do litoral norte do Paraná, especialmente na cidade de Paranaguá, onde vive a família Pereira.



Essa rabequinha foi construída pelo Mestre Anísio Pereira no ano de 2002. Como manda a tradição, a madeira utilizada foi a Caixeta, ou Pau-de-Tamanco (Tabebuia cassinoides), espécie típica das matas inundáveis da costa da Mata Atlântica. Madeira leve e maleável, a caixeta é empregada em construções navais e na fabricação de outros instrumentos de fandango, como a viola e o adufo.



As rabecas dos Pereira têm 3 cordas, usualmente afinadas em quartas justas. O arco também é feito de caixeta, mas guarada a grande peculiaridade de utilizar o Timbopeva -espécie de cipó- como crina. Isto lhe confere um som bem rascante e de volume não muito alto. Outro fato curioso é a colocação de resina de Almesca (ou almécega) na parte posterior da mão do instrumento. Isto agiliza a aplicação da resina no arco durante as brincadeiras do Fandango.





Este instrumento possui decoração em pirógrafo no tampo superior, assim como uma pequenina rabeca esculpida em madeira colada sob o espelho, entre o braço e o cavalete. Este é feito de madeira um pouco mais dura e escura.



Segundo Rodolfo Vidal, rabequeiro de Cananéia, no Vale do Ribeira, SP, a rabeca de fandango "também pode ser feita na forma ou cavoucada, utilizando-se vários tipos de madeira diferentes. O instrumento possui três cordas em quase toda a região, À exceção de Morretes e Iguape, onde é encontrada com quatro cordas. A afinação mais usada, da corda mais grossa para a mais fina, é de uma quarta justa. A rabeca sempre dobra a primeira voz e, nos momentos em que a moda ou marca não estão sendo cantada, faz uma linha melódica própria, tendo um toque - ou ponteado - especí­fico para cada uma. Segundo os fandangueiros, a rabeca enfeita o fandango e, por não ter pontos como a viola, é mais difícil de ser tocada. O dandão e a chamarrita, modas valsadas, possuem vários temas diferentes para rabeca, e podem ser tocados na mesma moda conforme a vontade do rabequista. Em São Paulo os toques de rabeca são diferentes dos toques do Paraná."

Para conhecer mais sobre a tradição do Fandango visite o blog do amigo Rodolfo Vidal: www.aposolhe.blogspot.com

Para mais informações sobre o Fandango Paranaense, visite:
http://www.jornalcomunicacao.ufpr.br/node/5356

E também:
http://teucantodepraia.blogspot.com/2008/08/vises-do-mestre-e-rabeca-no-fogo_22.html
Até a próxima e boas rabecadas!

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Saudades de Mané Pitunga

Manoel Severino Martins, Mané Pitunga, nasceu no engenho Boa Vista, município de Itambé, em 29 de Maio de 1930. Desde pequeno herdou o apelido do pai, Severino Marcolino Martins, também conhecido como Severino Pitunga. Ao longo de sua vida Pitunga trabalhou nas mais variadas atividades ligadas à roça e à lavoura de cana-de-açúcar, e também exerceu os ofícios de carpinteiro, barbeiro e marceneiro.
(PACHECO & ABREU, 2001)

Da rabeca de Pitunga saiu muito forró, Cavalo-Marinho, e som para as brincadeiras de Babau, antiga tradição de teatro de Mamulengos popular na Zona da Mata Norte de Pernambuco. No entanto, o que faz de Pitunga um personagem único na história da rabeca no Brasil não foram suas habilidades como músico. Mané Pitunga foi um hábil mestre construtor de rabecas.





De Luthier, Pitunga não tinha nem o nome. Era um rabequista, ou rabequeiro. Um cabra que gostava de zuada e brincadeira. Suas rabecas, hoje, alcançam alto preço e são muito raramente encontradas para venda.

Pitunga faleceu em 2002, e suas rabecas até hoje não encontraram semelhança em nenhum dos fazedores de rabeca da mesma região.



Fica aqui, como postagem inicial deste blog, uma série de fotografias feitas por mim à ocasião de sua vinda ao Rio de Janeiro em março de 2001. A exposição "Rabecas de Mané Pitunga" foi organizada por Gustavo Pacheco e Maria Clara Abreu na Sala do Artista Popular do Museu do Folclore Edison Carneiro.



Alguns cds nos quais se podem ouvir rabecas feitas por Mané
Pitunga:
CHÃO E CHINELO. Loa do Boi Meia Noite.
Recife: 1999. Disco Independente

MESTRE AMBRÓSIO. Fuá na casa de Cabral.
São Paulo: Sony Music, 1999.

_____. Mestre Ambrósio.
Recife: 1995. Disco Independente.

MESTRE SALUSTIANO. Sonho da Rabeca.
Recife: 2000. Disco Independente.

CAVALO-MARINHO BOI PINTADO. São Gonçalo. Música do Brasil.
São Paulo: abril, Music, 2000.
Cd 3, faixa 17.

Saudades de Mané Pitunga



Pitunga começou a tocar rabeca ainda menino,como ele mesmo conta:

Eu tinha um irmão que tocava rabeca, mais véio do que eu, eu
tava com oito anos e disse que ia tocar uma rabeca e quando ia
pegar na rabeca dele, ele vinha dar n'eu. E mandava me botar no
quarto, pra não pegar na rebeca, e eu falava assim: 'inda vô
arranjar uma rebeca pra eu'.
(*)



Como a maioria dos rabequeiros da região, foi autodidata:
"aprendi sozinho, da cabeça mesmo, ninguém nunca me ensinou". O
primeiro passo foi aprender a afinar o instrumento:
O que faz um bom rabequeiro é o camarada ter boa memória pra
tocar (...) Se faz rabequeiro é assim. O camarada é interessado
em tocar,chega na casa de um que sabe e ele não sabe nem afinar,
o camarada vai e afina pra ele, dá a rabeca, ele vai, desafina e
vai dar a mesma afinação. Se ele arender a afinação,ele toca. Se
ele não aprender, morre de velho e não toca...
(*)



Daí pra frente, Pitunga aprendeu a tocar observando outros rabe-
queiros da região, como Zé Nanô, seu Manu, Luís Soares e Didui,
desenvolvendo a memória musical e tirando melodias de ouvido. (*)




Embora tenha tocado em inúmeras apresentações de babau e de
cavalo-marinho ao longo de sua vida, sua grande paixão sempre foi
o FORRÓ:

Antes d'eu casar, já sabia tocar muito. A minha vida era tocar
baile direto, não tocava cavalo-marinho não, tocava era baile,
diretamente. (...) As brincadeira lá só era no mato, se você
tocava as brincadeiras assim num mato meio de apartado, à noite,
num dia de sábado, era tanta gente que fazia nojo, e hoje em dia
no matagal só tem cana. Lá era assim, a gente tocava na casa dos
amigo, quando a gente ia tocar que chegava no meio da sala era,
doze cavalheiro dançando, com a rebeca tocando, uma batucada mais
bonita do mundo. Dez, doze cavalheira, cobrava a dois mil réis a
cota, e nesse tempo, dançando dez cavalheiro mais dez cavalheira
a dois mil réis, dava vinte mil réis a noite. Era dinheiro que o
pesto. Que naquele tempo o sujeito com dez mil réis no bolso ia
no supermercado... mas tem uma coisa, não era muito bom de vida
não, que naquele tempo os engenho morria e os trabalhador era pra
cá de morrer de trabalhar.
(*)



*Texto retirado do catálogo da exposição realizada entre 29 de março e 6 de maio de 2001:

Rabecas de Mané Pitunga
Pesquisa e texto de Gustavo Pacheco e Maria Clara Abreu;
apresentação de Siba. - Rio de Janeiro: Funarte,
CNFCP, 2001.
32 p. ISSN 1414-3755